segunda-feira, 31 de maio de 2010

Les Gargouilles

Choro. Tenho o coração apertado, entalado no peito. Mal respiro. Soluços me consomem desde o começo da noite. A lua brilha intensamente e as estrelas são como inúmeros olhos a me observar de todos os lados.
No chafariz da praça, ao redor de suas inquietas águas, os Ciganos se reúnem e dançam. A alegria daqueles corpos livres me entristece. Por isso choro.
Além das minhas Marias adormecidas, não tenho outra companhia que não as Gárgulas do alto da Torre da Catedral. E a elas me dirijo.


Mesmo sem dizer palavra, as Gárgulas me ouvem e parecem compreender a minha dor. Vivem o mesmo sofrimento de não poder sair dali e dançar na alegria dos Ciganos que habitam a praça.
Presos, incorporados à Torre da Catedral, as Gárgulas e eu não temos outra escolha além de observar. E desejar estar ali. E invejar aqueles seres livres que rodopiam, festejam, se alegram e mais que tudo: vão aonde querem.

Sim.

Eu vivo o universo que você cria.
Eu sou aquela que nunca corresponde.
Eu sei cada sentimento que passa pelo seu coração.
Eu estou aqui, mesmo que você diga não.

Em resposta a um estímulo vindo de um canto qualquer.

sábado, 22 de maio de 2010

O Tocador de Sinos

Me reconheço rejeitado. Não fui bem quisto já quando nasci, abandonado à porta de uma Catedral, ao relento. Semi coberto pela neve que caía, fui recolhido quase morto por uma alma caridosa, alguém que cuidou de mim, me ensinou os primeiros passos, as primeiras palavras, a ler, escrever e ser parte do que sou hoje.
Não me sinto completo. Carrego dentro de mim coisas que não sei explicar. A vida inteira ouvi dizer que não posso ser como as pessoas que vejo passeando pela praça.


Do alto da torre, admiro um mundo do qual não faço parte. Ainda que seja parte dele.
Sinto um bater no peito que não cessa, uma dor que me faz insone, uma vontade de não conheço o que...
Não tenho de que reclamar. O Arcebispo me acolheu em sua casa e me ensinou a ser o que hoje sou: o Tocador de Sinos da Catedral. Não tenho amigos, não converso com ninguém além das gárgulas das torres ou as Três Marias, minhas únicas companheiras de caminhada.
Pesadas como a disformidade que trago nos ombros, elas são as únicas que não têm medo de se aproximar. Os sinos da Catedral são minha válvula de escape...
Mas hoje é o dia da Festa de Reis. A trupe de ciganos está na cidade e eu vou descer pra acompanhar. Quem sabe não me traga um pouco de alegria para os dias frios e tristonhos que tenho vivido?

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Arte pela Arte

A minha Arte não segue tendência,
não se encaixa em movimento,
não vem nem vai na corrente.

A minha Arte não é pra ser analisada
nem pra ser rotulada
muito menos estudada.

A minha Arte é livre,
é expressão do vento,
certeza líquida,
cor da voz.

A minha Arte é Arte.
Nada além da própria Arte
que segue o movimento dos dedos
segurando a caneta
que desliza no papel.

~ Carta para você

Querido,
não podemos continuar como estamos. Não vejo mais sentido em ficarmos juntos. Você ainda é meu favorito. O problema é que eu não consigo mais sentir aquela tranquilidade que eu sentia do seu lado.
Depois que soube da sua decisão, não pude conter as lágrimas e a dor que me invadiu o coração e saiu pelos poros, tão forte que era. Sei da sua necessidade de partir, mas ainda não compreendo a sua pressa. Só respeito. Faça o que achar melhor e conte com o meu apoio. Mas não conte com a minha presença.
Me dói dizer, mas já não sinto mais a velha obrigação de cuidar de você. Me parecem inúteis os meus conselhos, você não os ouve. Ou não os quer ouvir. Então prefiro guardar.
Também me escapa a alegria de te contar coisas novas. Você já não se alegra comigo. Ao contrário, me entristece com a sua tristeza.
Sofro por tomar, também, a minha decisão. Tão radical quanto a sua: não quero mais!
Não quero mais me desgastar pra tentar te mostrar uma nova maneira de olhar o mundo ou de agir diante das coisas que te acontecem. Não quero mais me culpar pela sua insônia ou falta de alegria ou falta de vontade. Não quero mais me preocupar com o que dizer, tendo que imaginar qual será a sua interpretação de cada palavra, solta ou em conjunto com todas as outras em tudo o que eu quero dizer. Não quero mais sofrer, por antecipação ou não, por causa de você!
NÃO QUERO MAIS!
Se é pra haver despedida, que não espere até a sua ida, estendendo a dor de uma iminente partida.
Se é pra haver despedida, que seja agora, porque eu não quero mais.
Mas estarei sempre aqui: quando for necessário.

Com saudade e carinho,
Morena

~Bibelô

Passando os olhos por uma vitrine, me encantei por um pequeno bibelô em formato de anjo. Era pequenino, porém suas asas eram longas e imponentes. Uma graça!
Não resisti e levei o anjinho para casa. Tinha um lugar na estante do meu quarto que o acolheria muito bem. E foi lá que o coloquei.
Mas o bibelô era teimoso. Apesar do lugar privilegiado, estranhamente, o anjo insistia em não permanecer no lugar. Por diversas vezes o recuperei antes que chegasse ao chão.
Até que, um dia, quando cheguei em casa depois de uns dias fora, encontrei o meu pequeno bibelô caído atrás da cortina, quase que escondido. Depois de muito procurar, descobri o que havia acontecido: meu delicado gato persa, em busca de um passarinho que entrar pelo vão da janela, arrastara tudo o que não vira pela frente com sua cauda gorda.
O ajno foi ao chão imediatamente e sua asa esquerda se partiu. Mesmo depois de tanto tempo, consegui colar quase todas as partes e refazê-lo. Era um bibelô, não tenho dúvidas, mas ele parecia demonstrar gratidão. Passou um tempo (que poderia ser o de recuperação) na estante onde o coloquei, mas pareceu se cansar dali e voltou a se atirar nos meus braços toda vez que me via. Até que não tive mais paciência para o bibelô teimoso que não se contentava com as prateleiras em que estava e insistia em não permanecer no seu lugar.
Guardei o bibelô na cristaleira e não precisei mais me preocupar. Ele continuava à vista mesmo sem estar onde eu gostaria que ele ficasse. Mas, apesar da teimosia, o carinho que eu tinha por ele nunca foi diferente.

segunda-feira, 17 de maio de 2010

~ da falta que a falta faz.

Sinto falta de quando era pra mim que você corria quando acontecia qualquer coisa, por mais idiota que fosse.
Sinto falta das mensagens de madrugada que eu sempre via de manhã e te ligava correndo pra saber se estava tudo bem.
Sinto falta de quando a minha opinião era importante pra você.
Sinto falta de quando a gente andava na praia e tomava sorvete no fim do dia só pra passar o tempo.
Sinto falta de quando a gente matava aula pra tomar cerveja e rir da desgraça que era a nossa vida.
Sinto falta de quando você me abraçava e dizia que nada no mundo ia separar a gente.
Sinto falta de quando você vinha me buscar em casa só pra andar de bicicleta no meio da tarde.
Sinto falta de quando você me ligava pra falar nada e tinha coragem de dizer que estava com saudade e queria só ouvir a minha voz.
Sinto falta de quanto você parava o que estava fazendo só pra me fazer rir.
Sinto falta de quando a gente conversava e ria alto no meio da rua sem se importar com a hora ou o lugar.
Sinto falta de quando a gente se encontrava nos intervalos e ficava conversando pra sempre.
Sinto falta de quando a gente ouvia as músicas do meu mp3. Ou pelo menos parte delas. Ou só as que você gostava.
Sinto falta de quando eu era a melhor sua companhia de samba. Porque você sempre vai ser a minha.
Sinto falta de quando eu olhava toda a vez que a porta abria e depois que você chegava, eu nem ouvia mais a porta abrir.
Sinto falta de quando você deitava na minha perna naquele banquinho da praça e eu te fazia carinho no cantinho da nuca.
Sinto falta de quando era de mim que você sentia falta.

Não, mas...

não era engraçado, mas já que você riu, não vou lhe privar o prazer de uma gargalhada há muito escondida atrás de tanta tristeza.

~ distância

Você está aí, mas eu não estou aqui.
Não dessa vez.
Não pra você.
Não por enquanto.

Você está aqui, mas não parece nem aí pra mim.
Eu que sempre estive aqui pra quando você quisesse...

Você está aí e eu estou aqui.
A distância não permite que estejamos no mesmo lugar.

Você está aqui e eu estou aí.
E tenho certeza de que isso nunca vai mudar!

Fantasia

porque eu quero mais é viver no Carnaval.
sair por aí pulando pela rua, sorrindo, cantando e vivendo a fantasia de alguns poucos dias que me tiram os pés do chão e os problemas da cabeça.

eu quero mais é viver no Carnaval.
fazer amigos de infância em meia hora e guardá-los com carinho no meu coração.
tomar cerveja dos outros como se fossem parte de mim.
dividir o taxi com uma estranha e encontrar conhecidos na barca.

eu quero mais é viver no Carnaval.
quebrar a rotina, sair da realidade, ser quem nunca me permitiriam ser nos dias que não são Carnaval.

eu quero mesmo é viver o Carnaval.

terça-feira, 11 de maio de 2010

Sonho de menina

Eu sou romântica à moda antiga, do tipo que ainda espera o príncipe encantado. Só serve pra mim aquele que me trata como uma verdadeira princesa, que me faz surpresas, que me manda flores... O cara perfeito é o que me leva pra andar de pedalinho, pra ver o pôr-do-sol na beirinha do mar ou me leva ao cinema no meio da tarde... E nas raras vezes em que nos desentendermos, ele vai continuar me olhando com carinho e respeito, vai me calar no meio da briga com um beijo de novela e dizer que me ama escondendo uma lágrima no canto dos olhos. E, no dia seguinte, vai ligar só pra dar bom dia e dizer que me ama. Vai me buscar em casa pra um passeio de bicicleta no fim de semana, vai me escrever cartas e enviar postais quando estiver longe, mesmo que suas viagens não durem mais que dois dias. E quando voltar, vai correndo me encontrar só pra dizer que morreu de saudade e que não sabe viver sem mim. E nós vamos fazer planos, vamos querer morar numa casa enorme com um lindo jardim e muito espaço para os nossos filhos brincarem. Quando chegar a hora, ele vai me achar a grávida mais linda e me dizer que eu serei a melhor mãe do mundo! E desde o primeiro dia só haverá tempo bom. Ele vai me amar e eu não vou conseguir nem respirar longe dele. Já saberemos que fomos feitos um para o outro no instante em que cruzarmos os olhares e as borboletas revoarem no estômago.

|keep dreaming|

domingo, 9 de maio de 2010

Estrela Verde

O Poeta segue seu caminho errante pelas ruas da cidade.
Ele vai levando cor e alegria aos corações que esbarram no seu. Na mão direita, sempre uma rosa vermelha pronta a ser ofertada à mulher que lhe amar olhando o fundo de sua alma que salta aos olhos. Na mão esquerda, todos os sentimentos que vêm do coração daquele amante medieval se transfiguram numa estrela verde.


Vermelha porque é paixão. Verde porque é esperança.
O Poeta, apaixonado pela vida, traduz amor e poesia e música nas trovas repletas de esperança numa vida melhor a cada dia que passa, seguindo no seu caminho errante pelas ruas da cidade.

cinco minutos

eu fico impressionada com a capacidade que você tem de me irritar. em cinco minutos todo o amor que declarei escorre por água abaixo. como se nada do que foi dito antes tivesse valor, ou como se eu falasse pras paredes. você não atende aos meus telefonemas, não me busca nem me leva em casa, não percebe que eu pintei as unhas de azul e cortei o cabelo chanel. você não se importa se está tarde e eu não sei voltar pra casa. você não sabe os meus horários nem os lugares que freqüento e não conhece os meus amigos. você não me faz surpresas, não manda flores, não me leva ao cinema nem se esforça pra me agradar. tem dias que eu pareço acordar do lado de um ser estranho. será que você me conhece o suficiente? será que eu sou tão difícil de conviver? e depois de outros cinco minutos, pedimos desculpas e volta o mesmo amor de brilhar os olhos que deixamos guardado durante tanto tempo.

só o seu

o seu amor me ataca
me invade
me inunda
me cerca
me afoga
me tira os pés do chão
me faz ser quem nunca esperei
me faz sentir a única mulher que merece ser amada.
o seu amor me faz sentir o sangue correr pelas veias
o ar entrar nos pulmões
a vida pulsar no meu peito.

saudosismo

às vezes a vida me dói num pedacinho que não sei explicar
não tem cura nem remédio
não tem solução.
esse pedacinho que dói é vermelho e bate
e alguns a ele chamam coração.
não sei se é mesmo coração
pra mim, mais parece saudade
daquelas coisas que podem nem ter acontecido,
mas é saudade, ou sei lá,
aquele sentimento de que ainda falta alguma coisa
um sentimento sem descanso que atrapalha a rotina bate-bate do coração.
um pedacinho de saudosismo que vem e vai e fica no coração.

La Cour des Miracles

Numa noite iluminada pela Lua, saindo do Cabaré, o Poeta se viu num lugar pelo qual não costumava passar, cercado de pessoas que não costumava encontrar e que ele não conhecia. Eram os Ciganos, estrangeiros que pediam asilo a qualquer vila que os acolhesse. E a cidade do Poeta os havia recebido, de olhos fechados e portas entreabertas.
Detido pelos Ciganos sob acusação de invadir um território que não lhe cabia, o Poeta não teve oportunidade de se justificar. Os estrangeiros não o conheciam, logo não se sentiam culpados de privar as ruas da cidade da poesia apaixonada daquele eterno amante da Lua.
Acordou um tempo depois, ainda desnorteado, e não estava sozinho, porém os olhos que o observavam eram mais doces que os que os aprisionaram. Os olhos verde esmeralda da Cigana tinham um misto de compaixão e carinho ao admirar o Poeta deitado em seu colo, semi desperto, de peito nu e longos cabelos cobrindo o rosto.
Mais uma vez, seus caminhos se cruzavam e o Poeta se via nos braços daquela que lera sua mão e tocara seu coração.

sexta-feira, 7 de maio de 2010

La Gitane

Ela se faz poesia para os olhos que a vêem,
ritmo para o corpo que a toca,
música para os ouvidos de quem a ama.

 A Cigana se entrega suavemente a um amor inesperado por aquele que salvou a sua vida.
O Tocador de Sinos alcançou a sua alma quando a olhou nos olhos pela primeira vez.
E hoje ela reflete o sentimento daquele olhar profundo por onde passa, irradiando amor no colorido dos movimentos leves de sua dança.

quinta-feira, 6 de maio de 2010

O Poeta

Ele caminha pelas ruas da cidade, vivendo na boemia, amando todas as mulheres, cantando suas dores de amor.
O Poeta é o príncipe das ruas, respeitado e desejado como nenhum outro, nem mesmo o Soldado do Rei.
A magia da sua poesia alcança as estrelas e o coração das mulheres da cidade.


Às mulheres do amor, o Poeta oferece suas palavras em troca de carinho e calor humano nas noites frias.
Às vendedoras da feira, oferece sua música em troca do pão de cada dia.
Às mulheres dos seus sonhos, fora do alcance de suas mãos, oferece serenatas noite adentro em troca de sorrisos sinceros, mesmo à distância, através de suas janelas e sacadas.
O Poeta segue conquistando corações por onde passa. O que não espera é que seu coração seja, um dia, conquistado por outra que não a sua amada Lua, ou sua companheira boemia.
Até que, um dia, seu caminho se cruza com o de uma estrangeira, errante como ele, que o desperta para um novo modo de olhar o mundo e encarar o amor.
No momento em que leu o destino do Poeta na palma de sua mão, a Cigana tocou o seu coração.

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Abre as asas sobre nós...

Liberdade é algo que vai além do que podemos alcançar nessa humanidade que temos.
Somos tão humanos, mas tão humanos que, mesmo livres, não sabemos que o somos. E buscamos sempre mais.
E é essa sede por mais, essa busca desenfreada por liberdade, que nos leva em frente e nos faz ver o mundo de possibilidades que bate a nossa porta todos os segundos.
Liberdade é mais que um sentimento, é uma razão de viver.
E só se alcança quando se tem algo de que se desprender.


Liberdade é desprendimento. Liberdade é desapego. Liberdade é sensação.
Liberdade é algo que buscaremos incessantemente, eternamente, constantemente. E seremos livres mesmo que não saibamos.
Liberdade é um abrir de asas transformador. Liberdade é elevação de alma.

Obrigada pela inspiração, amiga. Veio de um simples scrap.

segunda-feira, 3 de maio de 2010

A Carta

Resolveu escrever-lhe uma carta contando tudo o que sentia. Estava angustiada com aquele turbilhão de sentimentos explodindo em seu pequeno coração e resolveu compartilhar.
Afinal, ele era o único que conseguiria entender o que ela sentia. Estavam juntos há tanto tempo que bastava um olhar pra ele saber do que ela precisava. 
Estava feliz e queria que ele soubesse que seus sorrisos eram a causa de tanta felicidade.
Ele estava longe, mas mesmo assim ela sabia que ele sorriria e se lembraria dela. E que a abraçaria quando chegasse como se houvesse acabado de ler as palavras dela. 
Na carta, não dizia muita coisa diferente do que ele estava acostumado a ouvir de sua boca no dia-a-dia, mas seus sentimentos escorriam pelos dedos até o papel. Dizia pouco, mas com tamanho significado que poderia ser apenas uma frase, mas como peso de uma enciclopédia.


Ela só queria deixar registrado o quando o amava e o quanto ele sempre fora importante em sua vida.