quinta-feira, 24 de junho de 2010

L'Archidiacre

Ele sempre fora sério, centrado, focado nas coisas de Deus. Filho único, logo cedo abandonou a casa para ir ao seminário. Ainda padre, já à cidade, e celebrando missas na Catedral, recebeu uma encomenda inesperada certa noite em meio a um temporal. Um pequeno embrulho esquecido às longas portas da igreja chamou sua atenção. E o recolheu.
Em seu quarto, atrás da sacristia, abriu o pacote que se remexia pensando se tratar de um pequeno animal. Mesmo tendo aberto o embrulho, ainda demorou um tempo até mudar de opinião. O ser que o fitava com olhos lacrimosos era um pequeno bebê, abandonado por alguém que teve a mesma reação que o jovem padre ao vê-lo: horror.

Com o passar do tempo, as deformações da criança lhe pareciam normais e ele a tratava com carinho. Depois de uma certa idade, já alfabetizado e exímio leitor, já que nunca saíra da Catedral, o padre nomeou o adolescente 'Tocador de Sinos da Catedral'. Não por amor. Também nem por obrigação. Mas talvez por pena.
Alguns anos maias tarde, foi ordenado Bispo. E os sinos da igreja soaram jubilosos pelas mãos de seu pupilo. O que ele não esperava era que, na estação seguinte, seus instintos carnais há tanto tempo adormecidos seriam despertados na Festa dos Tolos...

domingo, 20 de junho de 2010

Lucas.

Ela me telefonou dizendo que lera meu texto e se interessara. Disse que via a trama se desenvolver diante seus olhos a cada linha. E que, talvez por descuido (não sabia se meu ou dela), acabou nos reconhecendo (a ela e a mim) no meio daquelas personagens tão irreais que tomavam cor, forma e vida em minhas palavras através de seus olhos.
Disse que gostou dos escritos e queria transformar tudo num filme. Sem nem mudar cenários ou pessoas. Durante os primeiros 15 minutos de conversa, não tive oportunidade de dizer mais que o 'oi' ao atender à ligação. Ela estava decidida e não queria outra resposta que não um sim. Teatral e exagerado, com toda a empolgação que ela sentia, mas sabia que eu não compartilhava.
Esperei até ela parar de falar para recuperar o fôlego e respondi, antes que ela continuasse. Respondi o que ela queria ouvir e a deixei sem reação. Andréia sabia que tudo o que eu sempre escrevi em meus livros eram retalhos da nossa vida a dois. De tudo o que vivemos e, também, do que não aconteceu. Usava nomes e situações quaisquer que ninguém que lesse reconheceria a não ser ela, Andréia, mesmo depois de tanto tempo separados.
Depois de algumas tentativas em vão, desistiu de tentar falar qualquer coisa e me ouviu. Expliquei que cederia os direitos e permitiria as filmagens da maneira como ela quisesse, que não interferiria em nada, que sequer leria os roteiros, disse que confiava no trabalho de sua renomada e reconhecida equipe. A única condição para transformar minhas raras palavras em imagens era que ela não voltasse a me telefonar.

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Tudo depende.

Depende do meu estado de espírito.
Depende da caneta.
Depende do papel.
Depende do humor.
Tudo depende!
Mas não importam as condições: independente de tudo isso, as palavras nunca morrem dentro de mim.

Conversas quaisquer podem acender uma faísca de palavra que mora dentro ;)
Você ainda vai escrever assim...

Contrastes

Queria alguma coisa salgada e quente. Parei na sorveteria.
Tudo o que eu mais precisava era de uma companhia. Não aguentei esperar.
Detesto chamar a atenção. Sentei na primeira mesa e pus os pés na cadeira da frente.
Senti uma vontade imensa e incontrolável de chorar. Abri o caderno e escrevi.

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Não.

Mesmo depois de tanto tempo, a conversa fluiu quase que naturalmente. Talvez em função de toda a naturalidade aparente, acabou por tomar um rumo que não devia, ainda que fosse esperado...
- E você? Ainda me ama?
Ela gelou. Sentiu o coração bater no fundo do estômago e na garganta ao mesmo tempo. Não esperava que a questão fosse exposta tão explícitamente. O que responderia? Nem pensou, foi sincera:
- Não sei responder.
- Não sabe ou não quer?
- Não sei, juro que não sei!
- Então isso é um não?
- Não é...
- Mas também não é um sim.
- Também não...
E um silêncio eterno de dois segundos perfurou ambos os corações. E ele inisitiu.
- Só responde se você me ama.
- Ah, não me olha assim...
Mesmo através da tela, os olhos entristecidos dele marejavam os dela. Respirou fundo.
- Se você não tem coragem de dizer, eu digo. EU TE AMO! Mesmo depois de tanto tempo sem te ver, sem te tocar, eu ainda carrego comigo aquele sentimento de quando nos conhecemos. Ainda me lembro do seu gosto e do seu cheiro. Ainda penso em você da mesma forma. Ainda quero ter você do meu lado.
Não se conteve. Antes que se debulhasse em frente à câmera, o interrompeu:
- Mas éramos tão adolescentes! O que poderíamos fazer? Você consegue me dizer?
- Não sei. E já não importa mais. Hoje não somos mais adolescentes...
- E o que podemos fazer?
Dessa vez, o silêncio foi maior e mais pesado que o anterior, dilacerando os corações expostos àquele sentimento tão antigo e tão presente. De um lado, a saudade de tudo o que não foi vivido. Do outro, um coração solitário implorando por carinho.
A inquietação tomou conta e não conseguiram mais controlar as palavras...
- Diz que você ainda me ama. Eu posso sentir. É real. Eu sei que é real.
- Não.
- Diz...
- Não. Estou dizendo: não.
- O que?
- Estou te respondendo. Não. Não te amo.
Ele ficou atônito. Não esperava uma resposta negativa. Aliás, nem esperava uma resposta tão rápida e muito menos decidida. Não soube o que responder.
- Mas...
- Como eu posso amar uma pessoa que não conheço?

(continua)

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Príncipe

Teu cabelo dourado é meu raio de sol.
Meu céu são teus olhos azuis.
A luz que ilumina meu dia vem do teu sorriso.
Vem, faz de mim tua princesa,
me toma pela mão e me leva além desse mundo.

I feel you.

E todo rosto que eu vejo na rua tem os teus traços, o teu olhar, o teu sorriso, o teu jeito.
E toda voz que me chama com carinho é a tua dizendo que me ama.
E toda lágrima que faz meu coração doer cai dos teus olhos e afoga os lábios teus.
E todo pesadelo teu é minha noite em claro, velando teu sono.
E todo vazio que eu sinto no meu dia é falta de ti.

domingo, 13 de junho de 2010

Gibiers de potence

Condenado à forca, o Poeta entristeceu-se. Não poderia mais transitar livremente pelas ruas da cidade recitando suas canções e poemas às belas mulheres por que passasse pelo caminho.
Vagava sem rumo pela noite, entristecido, cabisbaixo e sem vontade de seguir. Não cantava, não compunha, não dançava, não escrevia, não sorria... não tinha forças para ser alegre. Seguia triste.
Até que um rouxinol abriu as asas sobre ele e lhe trouxe de volta as cores da vida. Esvoaçante, a Cigana tomou o Poeta pela mão e dançou com ele. E dessa dança nasceu um lindo girassol. E o Poeta sorriu.


Desde então, não parou mais de sorrir e de compor. Livre do destino cruel, o Poeta vivia cada dia como se fosse o último, único dia de sua vida, e já não chorava mais. Aprendera o sentido real em se viver e acompanhar o colorido dos dias.
E toda noite, madrugada ou manhã, quando se deitava, antes de dormir, o Poeta se lembrava daquele girassol que nasceu do rodopio da saia da Cigana...

Saudade

A chuva que molha o rosto é de lágrimas. O frio que impede o sono é a solidão. Juntos, ensinam o significado não das palavras, mas de todo sentimento.
Estar só não significa não ter ninguém, mas mostra o quanto é vital estar perto.
Ao menor sinal de carinho, o coração acelera, as mãos gelam, as pernas tremem, falta o ar... e o peito é preenchido por uma sensação sem nome, sem descrição, sem tradução.
Ao somatório de tantos sinais, mesmo sem ainda compreensão total, ao longo dos séculos, se tem chamado saudade.

sábado, 12 de junho de 2010

Quer me namorar por um dia?

Imagine se você pudesse voltar no tempo e fazer uma coisa diferente.
Imagine se você pudesse ser minha mais uma vez.
Imagine se nós tivéssemos fugido juntos naquele dia.
Imagine como seria diferente.

Imagine se eu estivesse batendo na sua porta agora, com um buquê de rosas.
Imagine se eu te abraçasse.
Imagine se estivéssemos juntos agora!

Vem abrir a porta pra mim?

segunda-feira, 7 de junho de 2010

- what if...

Ela está sempre insatisfeita. Não sabe o que quer. Ou sabe: quer tudo! Quer sempre o máximo, sempre o melhor.
Não quer ter que escolher. Ainda assim é seletiva. Não quer tudo o que aparece, sabe escolher. Quer tudo o que lhe interessa.
Se arrepende de algumas escolhas que não pode voltar atrás, mas abraça de corpo e alma as oportunidades que tem de crescer e ser melhor.
Ela tem potencial, ela sabe o que pode fazer. E faz!
Muitas vezes se pega pensando no que poderia ter feito se abrisse mão de uma vontade por outra. Chega a se chatear um pouco... mas o que move seu mundo é o pensamento do que aconteceria se ela não tivesse tanta vontade.

terça-feira, 1 de junho de 2010

O beijo

E no meio de uma briga, depois de ouvir coisas que jamais imaginara, ele a segurou com carinho e firmeza e a beijou.
Resistente, ela tentou fugir, mas ele insistiu e ela cedeu. Se rendeu ao carinho maior que a fizera se apaixonar perdidamente e esqueceu toda a raiva que sentia.