domingo, 29 de agosto de 2010

O bilhete

e depois de tanto tempo
a cada dia que passa eu descubro um motivo novo pra me apaixonar por você
cada gesto, o jeito de olhar, o carinho, o cuidado, a atenção... tudo. tudo me dá vontade de te querer cada vez mais perto. cada vez mais pra sempre. cada vez mais meu.

Marionete.

Eu sou uma grande persona. Uma máscara. Uma personagem. Nem tudo o que você vê é como parece ser. Não se assuste se você descobrir que era tudo um truque de ilusionismo barato, só pra te convencer.
Eu sou uma esfinge. Ainda que te devore, você não vai me decifrar. Os segredos ocultos no interior dos meus olhos só são visíveis por dentro. Existo de dentro pra fora.
Eu sou uma farsa. Tudo o que você vê é mentira. E esse belo corpo? Mera carcaça. E essa voz doce? Disfarce. Esse sorriso escancarado? Engano.
Eu sou um grande erro. Aquele que cruzar o meu caminho não terá perdão jamais. Desgraçará a sua vida e não terá retorno. Nunca mais será o mesmo aquele que fitar meus olhos. Sucumbirá o desavisado que sorver o meu veneno.
Eu sou uma gárgula. Aprisionada ao meu coração de pedra, não sei amar e não permito aos que se aproximam conhecerem o doce sabor da liberdade. Vivo a carregar a dor de minhas pesadas asas de pedra que não me permitem voar.
Eu sou marionete embolada na estante. Esquecida pelo destino no fundo do baú com as cordas cortadas pra nunca mais sair do lugar.

sábado, 28 de agosto de 2010

Despedida...

Foi como cena de cinema. Passaram horas conversando embaixo da árvore como se não existisse no mundo nada além dos dois e seus pequenos grandes problemas.
Já não trocavam mais sorrisos, só dividiam uma angústia silenciosa que culminava em lágrimas e apertava os corações.
E no que seria uma despedida, ele fitou o céu nublado enquanto ela se desmontava a um canto da calçada. Mudos. Ninguém precisava falar. Pareciam ouvir o pensamento um do outro. Ou mais que isso: pensavam (e sentiam) a mesma coisa.
Mas apesar de toda a tristeza, no fundo, sabiam que não era o fim.

Carta para minha Estrela Guia

Sempre que posso, fico olhando o céu como uma forma de me lembrar da poesia. E tem feito noites lindas! Não sei se você tem tido tempo pra observar...
Hoje, em especial, depois de toda a correria desse período que insiste em não terminar, e de toda essa responsabilidade que vem junto com o 'crescer', me fez tão bem olhar aquele céu todo pintadinho de estrelas... e a primeira pessoa que eu lembrei quando vi aquele monte de luzinhas brilhando foi você.
E tudo o que eu mais quis naquele momento foi jogar o mundo pro alto e passar a noite abraçada com você em qualquer lugar longe daqui em que pudéssemos ver as estrelas e nada mais. E eu senti uma paz tão grande, só de pensar em você... que não sei explicar! Só queria dizer o quanto eu te amo e o quanto você é importante na minha vida. Espero poder, de fato, passar o resto dela do seu lado e construir uma realidade que seja fruto dos sonhos lindos que eu tenho hoje. E que esses sonhos sejam como as estrelas: que continuem a brilhar, mesmo depois de realizados.
Eu te amo!

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Luto!

Luto
contra o que sinto
contra o que vejo
contra o que insiste em me corroer por dentro
os sentidos e as certezas
a escuridão e a clareza
a força e toda a minha surreal fraqueza
o medo e toda a sua doce beleza

Luto
pra não ser mais igual ao que fui
pra não cair do abismo em que me encontro à beira
pra buscar a luz no fim do túnel que não vejo
pra não me perder por entre as árvores secas do caminho que percorro
pra voar sem as asas de cera que roubei de Ícaro
pra ir além e alcançar o infinito dos teus olhos mais uma vez.

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Entardecer


vi as cores do teu coração entardecerem
vi as dores do teu coração adormecerem
vi as asas do teu coração se abrirem
e alçarem o vôo mais alto que jamais imaginaram
.
vi a luz brilhar do fundo da tua alma
vi o sol se refletir nos teus belos olhos
senti o ar que respiravas calmamente
teu coração pulsava carinhosamente
.
eu vi a dor se dissipar da tua face
eu vi teu corpo repousar por sobre as flores
eu vi a paz tomando conta do teu ser
eu vi o mundo se espelhar na tua calma.


quadro do caro amigo Carlos Valença

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

A decisão

- Joguei tudo pro alto. Desisti. Foge comigo?
- O que?
- Larguei tudo. Não tô cabendo mais aqui. Foge comigo? Vamos pra outro lugar.
- Isso é loucura!
- Eu sei! Mas por essa loucura que eu experimentei a liberdade. Vem, foge comigo!
- Não posso! E a vida que eu construí aqui? Família, casa, emprego... Não dá pra largar tudo agora.
- Clara, para com isso. É tudo o que você sempre quis, sair dessa prisão que se tornou a sua vida. Vem comigo.
- Não fala assim, Deco.
- Mas é verdade, Clara. Você é maior que tudo isso e também já não cabe mais aqui. Vamos embora desse lugar. Vem comigo, Clara! O mundo é nosso!
- Deco, bota esse pé no chão. Como a gente vai viver fora daqui? Sem lugar pra morar, sem conhecer ninguém, sem dinheiro... Deco, para de agir como criança. Você não tem mais idade pra isso. Me escuta...
- Me escuta você, Clara: cadê aquela menina sonhadora que sempre quis ser feliz? Pra onde foi a sua coragem? A sua vontade, Clara? O seu desejo de ser feliz? Você sabe que não é essa vida que você tá levando que vai te fazer feliz. Esse lugar é pequeno demais pra você, Clara. Você merece muito mais.
-  Deco... não fala assim. Eu... eu sou feliz aqui. Apesar de alguns problemas... eu... eu sou feliz, sim.
- Clara, não se engana com isso. Você se acostumou com essa vida. Seu lugar não é aqui!
- Deco, eu não posso...
- Clara, casa comigo!
- O que?
- CASA COMIGO, Clara! Eu te amo!
- Deco!
- Eu te levo pra ver o mundo, Clara. Casa comigo!

~ Carta para nós dois

Confesso, em algum lugar me afeta ter que ouvir e rir de tudo isso. Talvez eu realmente quisesse estar em um lugar diferente do que estou.
Sua paixão é clara e, ainda que doce, explícita. Mas, mesmo assim, não cabe a mim corresponder. A verdade é que você não se encaixa nos planos que eu fiz pra mim e não acho que seja justo te aprisionar a uma vida que não te cabe meramente por capricho.
Não posso te privar de fazer outros planos, de querer alguém que te faça feliz, de me esquecer. Você é o tipo de pessoa que merece ter sempre um motivo pra sorrir. E deve buscá-lo, sim!
Mas o meu egoísmo me traz em amarras tão surreais, que me vejo sem direção quando penso em você.
Tudo o que sei é que te quero sempre sorrindo. Te quero a pessoa mais feliz desse mundo. Te quero meu eterno ombro amigo, meu porto seguro. Te quero comigo. Te quero.
Então descubro que, todo esse tempo, o meu maior defeito foi te querer.
Mas agora me parece tarde. Tarde pra mim, porque, ainda que aos poucos, você foi ocupando o seu coração e reduzindo o meu espaço dentro dele. Tarde pra você, porque, mais uma vez, no auge do meu egoísmo, eu te deixei de lado. Tarde pra nós, porque talvez já não haja mais tempo.
E o que nos resta quando não há mais tempo? Fugir? Fingir? Desistir?
Eu desisto, desisto de fugir e de fingir. E assumo: eu te quero aqui.
Estou na porta de casa, brincando com as chaves. Até quando você vai demorar?

domingo, 8 de agosto de 2010

La fleur volée

me trouxe uma flor roubada, daquelas que tem mais graça. colhida no jardim do vizinho. daquelas que pulam do muro, pedindo pra serem roubadas. levadas à amada que espera no portão.
me trouxe um sorriso discreto, daqueles que tem mais graça. no canto da boca, sem graça, sem jeito, com medo de não aparecer. daqueles que são os mais sinceros e mais contidos. levados à frente quando não se tem mais o que oferecer.
me trouxe um abraço verdadeiro, daqueles que tem mais graça. forte, sincero, único, apaixonado. daqueles que falam por si e não precisam de tempo para terminar. levados ao extremo quando se ama e não precisa mais de palavras.
me trouxe o seu coração. porque já tinha, nele, o meu.

~ das melhores lembranças

Eu parei pra me lembrar de tudo o que fomos até aqui. E só consegui sorrir. Porque mesmo as brigas e lágrimas derramadas vieram pra estreitar o laço e enfeitar e colorir a nossa união.
De tudo o que vivi com você, os sorrisos sempre foram a melhor parte.

E ela

Chegou com olhar perdido de quem não conhece o caminho que faz. Seus olhos buscavam alguém ou algum indício de estar na direção certa.
No abrir de uma porta, seus olhos se encontraram: a certeza do objetivo alcançado e o sorriso de acolhida. A tranquilidade tomou conta de seu pequeno coração.

Do não pertencimento

O que antes era vital, essencial, já me parece sobrar.
Se ontem não vivia sem os antigos, hoje, mais do que nunca, preciso dos novos.
Sinto as asas presas, atadas, limitadas. Nem os sonhos cabem mais por aqui. Preciso de liberdade, espaço, vida nova!
Que a saudade seja combustível para afastar o esquecimento. Mas que os novos ares sejam necessários e alimentem os sonhos e renovem as forças para as asas jamais se fecharem.
O coração permanece, mas a alma precisa sair. O mundo me chama, já não pertenço mais a este lugar.

Preciso!

Já não pertenço.
A parte de mim que existia aqui foi pra algum lugar que não sei onde.
Preciso dela pra sobreviver. Não sou eu, subexisto.
Alguém fechou a porta e senti pular pela janela tudo o que me prendia e trazia sorriso e fazia viver.
Quero de volta. Preciso!
Já não me reconheço neste lugar, nestas pessoas, nestes fazeres. Preciso de volta as minhas asas libertas, abertas, cobertas de desejos e planos e vontade de voar.
Não sou o que fui, sou menos. Preciso de mais! Preciso de volta as minhas forças e vontades de crescer.
Preciso abrir as asas e voar. E sempre que for preciso, ter um lugar para onde possa voltar. Preciso do mundo que grita de dentro de mim querendo encontrar o mundo que existe aqui fora e espera minhas asas e sonhos em algum lugar.

~ Carta para o melhor presente

Meu melhor,

escrevo-te para dizer o que já sabes, ainda que eu nunca tenha dito com todas as letras.
O meu coração só se acalma quando converso contigo. E conto tudo aquilo o que me aflige ou alegra em demasia.
Mesmo tendo outros amigos, que me conhecem há muitos anos, que cresceram comigo, que me viram chorar e sorir por todos os motivos... mesmo te tendo há pouco tempo do meu lado... mesmo tendo passado, contigo, por todas as coisas que somente nós sabemos que passamos, é em ti que vejo meu sorriso mais sincero, é contigo que sou, verdadeiramente, eu. Sem máscaras, sem armaduras, sem polimento ou qualquer tipo de disfarce.
Agradeço por confiares a mim teus segredos, por seres puramente quem és, por mostrares tua alma à minha e seres sempre aquele com quem posso contar.
Agradeço por seres meu melhor amigo, confidente, salvador, parceiro de samba e de mesa de bar, companheiro de caminhada e aventuras, mão para atravessar a ponte, ombro para chorar ou dormir, abraço, sorriso, olho brilhando, gargalhada.
E desejo que o que construímos até aqui supere a distância que o tempo tenta impor e todas as mudanças por que, inevitavelmente, passaremos.

Um beijo com todo o meu carinho,
Tua Morena.

Flores, amores e blablablá

chegou com flores roubadas do jardim da vizinha.
nunca fizera isso antes. era a primeira vez.
que motivo teria?
sabia que a chateação era tanta que não passaria com um beijo ou um simples pedido de desculpas ainda por telefone. e chegou com flores roubadas, só por ser diferente. só por ser romântico. só por mostrar que também sabia agir dessa forma.
pena a chateação não ter passado. seria cena de novela.
mas foi melhor assim. ficou de lição para a próxima vez. mesmo que se espere que tenha sido a última.

Das distâncias que o tempo impõe

Tenho medo do que possa ter me tornado depois de tudo o que vivi até aqui. Vejo os meus, aqueles que eram tão próximos e tão fáceis de ler, tão completamente diferentes do que eram nas minhas mais doces lembranças, que tenho medo de não ser mais sombra de quem eu era.
Distanciamo-nos, em tantos aspectos, do que fomos, que parecemos outras pessoas, nascidas em outras épocas, vivendo outras vidas. Será que nos tornamos aquilo o que nunca quisemos ou que sempre rejeitamos?
Sinto uma tristeza tão grande quando vejo que já não sinto o mesmo bem estar que pensava sentir, que sentia, que fora tão natural um dia.
As pessoas mudam, eu sei, mas a sua essência deveria permanecer a mesma. Sinto falta, não de uma pessoa especificamente, mas do que eu era e de como me sentia quando estava com esse alguém que já não reconheço mais.

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Abandonado

Eis que a pior das sensações toma conta do meu coração: abandono. Com um agravante: permaneço cercado de pessoas que dizem sentir a minha falta e se importar comigo.
Mas pior que isso, eu sinto que você me troca pelas suas novas obrigações, novas amigas, novos sapatos... você me abandona quando eu mais preciso do seu carinho.

Carta para um bom amigo

Mon cher,

palavras jamais seriam suficientes pra dizer o carinho que eu sinto por você. Apesar da distância, de não nos vermos e, por vezes, mal nos falarmos, o coração compreende, perdoa e aproxima nossas existências.
Seguimos por trilhas tortas, muitas vezes paramos à beira do abismo. Mas é nesse momento que Deus se mostra presente, estende Sua Mão e coloca seus Anjos a nos proteger. A esses Anjos, chamamos, carinhosamente, amigos.


E foi você, meu caro amigo, que me segurou pela mão, olhou nos meus olhos e sorriu, trouxe cor, movimento e vida para minhas palavras e me mostrou que meu dom volta para o lugar de onde veio.
Saiba que eu estou aqui. Quando suas asas falharem, os pés calejarem e os joelhos não suportarem o peso do seu corpo. Eu estou aqui. Para te tomar pela mão, te levantar a cabeça, ampliar seu horizonte e mostrar que o Céu te espera o tempo que for necessário até que suas asas e seu coração estejam curados e preparados para o vôo da próxima missão.

Por todas as suas cores,
com todo o meu carinho.
je t'embrasse.
Poetisa.

A Mulher Árvore

Semente de uma flor caída do bico de um passarinho. Em meio à escuridão da terra, saiu em busca de luz. Cresceu, deu flor e enfeitou o caminho. Seus galhos se esgueiravam procurando alcançar o céu. No coração daquela árvore, um coração adormecia...
Era primavera. No meio do dia, um homem parou à sombra de suas folhas esperando repousar. Vinha sozinho, porém cantava. Parecia traduzir em sons o que sentia, pois não era compreensível o que ele dizia. E o doce som de sua voz despertou o coração que adormecia.


Abriu os olhos à procura de quem emitia tão lindo som que a despertara e se deparou com o homem que cantava. Perguntou-lhe quem era e o que o levara até ali. Ouviu como resposta uma voz suave feito brisa. Era um monge e tinha uma missão a cumprir. Andava tentando descobrir que missão seria essa. Curioso, quis saber como aquela bela mulher ficara presa ao tronco de tão frondosa árvore. Nascera ali, viera de uma flor. Mas até então não conhecera a luz do dia, adormecida ela permanecia.
E conversaram durante horas... conheceram profundamente um ao outro. Até que o monge se despiu de sua capa, abriu suas longas asas e voou. Cumprira sua missão de despertar a Mulher Árvore. Ela, por sua vez, sorriu e acenou para a liberdade que acabara de descobrir nos olhos do monge. Entendeu o sentido de estar ali e floresceu. Buscava o alto como o Monge Pássaro. E lá chegaria estendendo seus galhos para o céu.

a pedido de Carlos Valença, meu caro amigo.

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Dos pequenos exercícios de caridade

Ajudar uma velhinha a atravessar a rua, levar livros antigos pra uma biblioteca pública, doar roupas que não cabem mais pra uma igreja, comprar brinquedos novos pra um orfanato, ouvir os velhinhos em asilos...
São as pequenas coisas que fazem um grande coração.
Caridade é exercício ;)

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Dos pequenos exercícios de amar

Nenhum dos amores platônicos foi tão idealizado. Nenhuma das paixões ardentes foi tão arrebatadora. Nenhum dos sonhos de princesa foi quisto tão real.
Há muito eu não sentia meu coração tão tranquilo. O que me faz sorrir é ver seus olhos brilhando quando me conta, entusiasmado, o que fez no dia. O que me deixa alegre é o seu jeito de sorrir. O que me acalma no fim de uma jornada, ainda que intensa, de trabalhos e rotina é o doce som da sua voz. O que me faz dormir melhor é ficar com o seu cheiro quando você deita no meu colo, como um gatinho, quase ronronando e pedindo carinho.
Há muito eu não sentia minha alma tão tranquila. O seu carinho, o seu toque, a sua respiração suave ritmando a minha me transportam pra uma outra dimensão. Onde eu não tenho problemas nem tarefas a cumprir. Só tenho você e o que quer que tenhamos vontade de fazer. Onde eu não tenho preocupação. Só uma: te ver feliz. Eu me transporto pro futuro e tudo o que ele vai ser de lindo quando formos, juntos, um. Eu me transporto pra nova vida que vamos levar. E sou mais leve por te ter comigo.
Há muito eu não sentia paz. E foi quando me encontrei em você que eu percebi que ela sempre esteve aqui, desde o dia em que te conheci.

Dos pequenos exercícios de memória

Não teve um segundo sequer que eu tenha parado pra pensar na minha vida, fosse lendo recados e cartas e cadernos antigos, vendo fotografias ou achando trabalhos antigos da época de colégio... (naquele tempo em que se registrava tudo no papel e se guardava) que eu não tenha sentido uma explosão de sentimentos que não tem nome me sairem do peito como borboletas em revoada a alcançar o infinito com suas pequenas asas.
O coração apertou, o sorriso não se conteve, a lágrima fugiu. Tudo isso, toda a minha história passou diante meus olhos como num filme que eu estivesse revivendo. E sorri. E chorei. E fui feliz mais uma vez.
E não teve um segundo sequer que eu tenha parado pra reviver a minha doce infância ou a minha atribulada adolescência em que você não estivesse presente. Você que estendeu a mão toda vez que eu caí, você que secou as lágrimas que insistiram em aparecer, você que buscou o sorriso no fundo do peito ou na beiradinha da alma, você que abraçou e pulou junto pra não sentir frio, você que ensaiou quadrilha pra ganhar ponto na escola, você que escolheu a minha roupa pra ir a uma festa, você que treinou handebol e sempre deu os passes perfeitos, você que fez caminhadas, você que me roubou um livro, você que fez reuniões na sua casa, você que levou metade da turma pra almoçar na casa do seu avô por conta de trabalhos, você que sempre foi a melhor dupla de buraco porque me entende só num olhar, você que me arrastou pra ir à praia, você que virou a noite conversando na internet (comigo ou com alguém por mim), você que riu alto no meio da rua como se não existisse ninguém mais em volta, você que nunca contou quem quebrou o vidro da janela, você que jogou bola na rua, você que jogou taco na rua, você que fez encontro de adolescentes, você que chorou no meu ombro, você que me poupou tempo ficando com aquele menino que eu queria e que não valia a pena, você que sussurou a resposta da questão mais difícil daquele simulado, você que achou a agenda que eu tinha esquecido e leu todos os meus segredos, você que comprou balas de hortelã todo recreio, você que correu atrás de pombos o recreio inteiro, você que andou o pátio inteiro procurando os meninos só pra vê-los de longe, você que me deu os piores apelidos, você que abriu polvo e frango no laboratório, você que vendeu açaí, você que passou as respostas dos exercícios daquele professor mala antes de começar a aula, você que revisou cada detalhe da matéria antes da prova, você que fez grupo de estudos na sua casa, você que andou de bicicleta na chuva comigo, você que me ensinou física, você que me apresentou a pessoas legais que estão na minha vida até hoje, você que se meteu em várias furadas junto comigo, você que só fez coisa errada esperando meus conselhos, você que foi à missa comigo, você que se declarou pra mim sabendo que não ia dar em nada, você que cantou no show de talentos, você que dançou no show de biologia, você que vendeu doce pra ter dinheiro pra festa de formatura, você que passou recreios escondido na sala tocando violão, você que escreveu músicas sentado no chão do pátio, você que jogou bolinha de papel no meu olho, você que levou bronca por minha causa, você que começou a guerra de estojos no meio da aula, você que pagou mico junto comigo, você que me matou de vergonha, você que voltou da escola andando comigo, você que dividiu o biscoito no recreio, você que emprestou a sua barbie, você que pisou no meu pé machucado, você que riu de mim quando engessei o braço, você que gritou comigo no telefone, você que disse que nunca mais falaria comigo e me ligou uma semana depois perguntando como tivemos coragem de ficar tanto tempo sem conversar, você que me escreveu cartas estando na carteira do lado, você que comprou caneta pra eu roubar do seu estojo, você que desenhou tudo o que eu quis, você que sentou na escada pra matar aula, você que levou vodka escondida no último ano da escola, você que me deu dinheiro na rua no trote, você que guardou todos os meus segredos desde o primeiro até os que ainda nem existem, você que sempre esteve aqui.
E não teve um segundo sequer que eu tenha parado pra admirar as pessoas que eu tenho na minha vida que eu não tivesse te visto do meu lado. Você que me conhece, às vezes, melhor do que eu. Você que me viu crescer. Você pra quem eu não tenho palavras.
Você que é meu amigo de infância.

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

O segredo II

[...]
Ele é um bom rapaz. Quieto, estudioso e carinhoso com os seus. Quase não sai, prefere se dedicar aos estudos. Está para ingressar na faculdade e não quer fazer feio.
Ele é tranquilo, nunca arruma confusão com ninguém e é até bem querido para quem seleciona a dedo os seus amigos.
Todos os dias segue a mesma rotina. Acorda e antes de qualquer outra coisa, liga o computador e checa seus emails. Toma um café da manhã de quem come por obrigação, lê o jornal e volta para o computador. Estuda como se estivesse em provas finais, ainda que esteja em férias.
À noite, conta estrelas de sua janela. Algumas vezes, se distrai com os gatos da vizinha, que insistem em pular no seu telhado.
O que jamais poderia imaginar era que se distrairia com outra coisa a partir daquela noite...
[continua]