sexta-feira, 4 de novembro de 2011

O tempo que não é.

E aí parece que todas as coisas conspiram contra. Sempre.
Desde que você decidiu que ia, meu coração já foi. E não há um segundo em que ele esteja aqui, no presente, vivendo como se não houvesse amanhã. Pela primeira vez é o porvir que assusta, que apavora, que maltrata. Não fosse essa coisa idiota de sofrer por antecipação, seriam os melhores dias de toda uma vida. Mas eu faço tudo errado, mesmo.
Todas as músicas que eu ouço, todos os livros que eu leio, todos os filmes que eu vejo e até no trabalho eu arrumo um jeito de pensar em você e em nós e como tudo – não – vai ser enquanto você não estiver aqui.
Eu sei que a culpa é minha, que eu penso pra frente demais e que eu gosto de sofrer (não há outra justificativa). Mas você também tinha que complicar tudo?
Se eu pudesse decidir de novo, eu não teria falhado a primeira vez. E essa poderia até ser a segunda. Ou a continuação daquela. Mas eu fui fraca, só pra variar.
E o que acontece é que eu não consigo suportar a dor de te ver partindo. Eu sei que é o seu sonho, a sua vida, a sua realização. Mas eu também sei que sou egoísta e só consigo pensar “mas e eu? E tudo isso o que construímos juntos? Pra onde vai? Como fica?” Mas você tá certo, tem que pensar é em você e nos seus sonhos e no seu futuro. Eu que aprenda a cuidar de mim.
Só não esquece uma coisa. Por mais que eu fuja de te ver fazendo as malas ou escolhendo itinerários, eu to do seu lado, viu? E todas as vezes que eu não quiser saber do que você está falando é porque eu queria estar compartilhando o mesmo sentimento.
E não esquece de mim. Porque o meu coração não esquece, nunca, o seu.

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Era vidro.

Ele prometeu enviar do país a que fora um presente que nunca chegou. Ela esperava o pombo correio como quem espera o antídoto para um veneno mortal. Os anos se passaram enquanto ela esperava. O tempo passou e ela esperou. Nem presente nem ele. Sua paz nunca voltou.
Até o dia em que passou pela cidade um mensageiro. E trouxe para ela uma carta de amor. Ele não a esquecera. Voltaria. Mas os percalços do caminho o impediam de vê-la outra vez. Seu coração se iluminou como o sol da manhã e seu sorriso se abriu feito botão de flor.
O presente nunca chegou. Nem ele voltou. Mas a alegria da espera deu novo ânimo aos dias dela. Até que lhe veio a notícia. O dia em que ele se casaria. E ela deixou de esperar.
Então o presente chegou. Um relicário e dentro dele uma rosa vermelha de vidro. Ainda terminava de abrir quando o bilhete caiu. Numa letra apressada, dizia que se casaria. Mas que o grande amor de sua vida carregaria consigo uma rosa vermelha como sinal de esperança.
E ela entendeu que seus caminhos não mais se cruzariam, mas que, mesmo sem saberem, já eram um só.

domingo, 28 de agosto de 2011

Sobra excesso.

Preciso ir, já não me caibo. Ando fora de mim. Sobrevivo.
E não é falta de amor nem de Deus nem de realização. Ao contrário, sou feliz em qualquer instância. O que me acomete é aquele bichinho da novidade que não me deixa em paz.
Faz tempo me cansei daqui, de procurar por mim onde não existo. Sou em vários aspectos, mas um vaziozinho na alma incomoda como grão de areia no sapato.
Faz sol, mas não dá praia. Não sobra chocolate em pó pro brigadeiro. A chuva cai cinza e ácida. As nuvens não formam castelos, mas prisões. Me afogo na ressaca que bateu no mar da minha vida, me revirando nas ondas atiradas às pedras da rotina. E não tem nem uma brisa que me leve sem destino.
Não é falta de Amor nem de Deus nem de solidão. É excesso de querer, que não cabe em realizar. É tudo extremo. É muito desejo no coração e pouca hora no relógio. É muita ideia na cabeça e pouca câmera na mão. É muito sonho no peito e pouca asa no pé. É muita vida transbordando de uma vez.
Mas não é falta. É excesso.

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Você não era assim...

Tudo o que eu me lembro da nossa distante infância se resume a chatices e implicâncias. Mas nada que não seja normal pra crianças daquela idade que tivemos.

Tudo o que eu me lembro do tempo que passei longe de você a primeira vez é que eu nem me lembrava de você, na verdade. Você não me sobrava nem faltava. Já nem sabia mais da sua existência pra gastar toda a sinceridade que habita em mim.

Tudo o que eu me lembro da primeira vez que te revi foi a vergonha de estar perto de você e a vontade de dizer que tudo não passou de implicância infantil e que agora você parecia outra pessoa, completamente diferente e amadurecida e adolescente. E foi nessa hora, pela primeira vez, que eu realmente me dei conta de quem era você. E de que você existia. E que, de alguma forma, fazia parte da minha vida. E eu queria que fizesse mais.

Tudo o que eu me lembro do tempo que passei longe de você a segunda vez é um vazio que me apertava eu não sabia onde nem quando nem como, mas que me tirava o ar algumas vezes. E mesmo não sabendo que era falta de você, alguma coisa dentro de mim parecia ter perdido um pedaço. E era saudade do que não fomos e não sabíamos que iríamos ser.

Tudo o que eu me lembro da segunda vez que te revi é que as coisas se atropelaram todas e se sobrepuseram e de repente estávamos abraçados, dois pra lá dois pra cá e conversas ao pé do ouvido. E de repente estreitamos os laços que nunca nem soubemos ter. E aí já não tinha mais pra onde fugir, voltar ou correr. O que o destino traçara estava feito e não era a gente que poderia mudar ou não querer ou tentar desfazer.

Tudo o que eu me lembro da primeira vez que você mentiu pra mim é que foi doce. E tão fofo e tão sutil que nem parecia mentira. E eu caí direitinho, como todo ser humano adolescente e frágil sempre cai, mesmo sem saber e muito menos sem achar que caiu. Mas eu caí. E achava que estava no comando da situação, mas (ah, quanta ingenuidade!), é claro que não.

Tudo o que eu me lembro das vezes que se seguiram e que você mentiu pra mim é que a sua mentira continuava doce. E fofa e sutil. E eu continuava achando que o mundo era cor-de-rosa quando eu estava do seu lado. E tinha certeza de que era por isso. Mas a verdade é que ele permanecia azul e só eu que não queria ver.

Tudo o que eu me lembro da última vez que você mentiu pra mim é que doeu muito mais que toda a saudade que eu tinha sentido. E muito mais do que se você não tivesse mentido. E muito mais do que toda a dor que eu já tinha experimentado e conhecido e sentido até então. E foi difícil de curar, de esquecer, de cicatrizar. Mas cicatrizou.

Tudo o que eu me lembro da última vez que eu te vi é que eu já nem lembro mais o que eu sentia. Nem sei se ainda sentia alguma coisa quando vi você passar. Porque você já tinha mudado outra vez e não cabia naquele você que era a imagem sua que eu tinha guardado, ainda docemente, mesmo depois de todas as suas sutis mentiras. E porque eu achava que você tinha carregado toda a minha capacidade de sentir pra longe, mas tão longe que ela nunca mais poderia voltar. Mas voltou.

Tudo o que eu me lembro da última vez que eu te vi passar é que você já não significava mais o mesmo pra mim. E já não fazia mais parte da minha vida. E nem fazia parte da minha saudade. Mas permanecia em algum lugar do meu passado, em preto e branco, como uma lembrança que existiu e que parou por ali.

Tudo o que eu me lembro da última vez que eu me dirigi a você é a percepção que eu tive do que você era. Você não era nem metade do que eu achava que era. Na verdade, estava bem longe de ser. Você era, em toda a sua inteiridade, uma doce mentira que me acalentava e me aquecia o coração, ainda que nada fosse verdade. Mas era uma mentira. 

Tudo o que eu me lembro da última vez que eu pensei em você é que eu tinha pena. Ou um sentimento qualquer daquela coisa inacabada que a gente resolveu deixar pra lá. Porque se nunca começou, como é que poderia ter fim?

Tudo oq ue eu me lembro de você é que, em todas as minhas lembranças, ainda as que foram mentiras, você não era assim.

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Word hunter.

Havia muito as palavras não me fugiam por tanto tempo.
Volta e meia elas se perdem numa deliciosa brincadeira de esconder. Mas às vezes parecem esquecer a hora de voltar.

***

Não muito tempo faz desde a última vez em que me vi escrevendo. Sobre mim, sobre você, sobre uma outra vida qualquer ou sobre aquela história que nunca existiu (mas se tivesse existido, seria exatamente daquela maneira, sem tirar nem pôr). E muito menos tempo ainda faz desde que a última ideia de rabisco perpassou a minha mente. Mas essa vida anda tão corrida...
E as palavras minhas, que antes escorriam à primeira vista de uma caneta e papel, parecem viver numa eterna corrida, fugindo da prisão que lhes parece serem escritas.
E essa vida anda tão corrida que me destrói as esperanças, a cada dia, de escrever um pouco mais sem compromisso. É tanta obrigação, tanto texto ensaiado e decorado que já nasce pronto, que as palavras se escondem, com medo de não ter mais a liberdade de outrora. Tolinhas. Mal sabem elas a falta que me andam fazendo.
Mas um dia eu as pego de surpresa. Ah, se pego!

domingo, 24 de abril de 2011

Somos nó.

Sozinha. Cabelo ao vento na sacada. Lua alta no céu. Vento forte e frio. Não há casaco que me esquente esta noite. Sinto falta de algo que não é material. Sinto falta de braços que não podem me abraçar e de rostos que não podem me sorrir. Sinto falta de alguma coisa que não sei, que não conheço, que nunca vi. Sinto falta de você. Sinto falta de mim.
E nessa falta de mim, não consigo caber no que eu sou. Não consigo ser no que eu caibo. Não consigo ver o que não alcanço. Não consigo alcançar o que vejo. Não consigo pensar no que quero. Não consigo querer o que penso. Não consigo respirar. Não consigo enxergar. Não consigo ouvir. Não consigo pensar. Não consigo existir.
E é essa inexistência, essa ausência que me consome. Tenho sede. Tenho fome. Tenho desejos que não posso saciar. E tenho medo. Tenho dentro de mim aquela sensação de que o mundo não tem conhecimento da minha dor, do meu penar, do meu sofrer. E nunca terá. Tenho certeza de que eu, apenas eu, sou capaz de me curar.
É a cura que me faz seguir. Uma busca incessante, estressante, revigorante. Enquanto não encontrar, não hesitarei em procurar. Mas enquanto não encontro, me vejo perdida. Me vejo sozinha. Me vejo sem você.
É você que me faz falta todos os dias. É você que não está quando eu estou. É você que permanece aqui. É por você que eu sigo em frente. É por você que eu não desisto. É porque eu sei que vou te encontrar. Porque eu sei que é em você que eu vou me ver. Porque eu sei que é em você que eu vou existir outra vez. É você que me faz ir mais além.
E quando você não vem eu não existo. Eu não estou. Eu não sou ninguém. Eu não sonho. Eu não como. Eu não respiro. Eu não saio do lugar. Quando você não vem eu não tenho rosto. Eu não tenho sorriso. Eu não tenho vontade. Eu não tenho eu. Eu só tenho você. E quando você não vem eu não tenho ninguém.

Nova velha história

Ele tem o coração escancarado. Às mãos. Esperando conserto. E só há um par de mãos capaz de curá-lo.
Não se lembra de ter passado por isso antes. Não sabe como lidar com suas feridas ou aliviar sua dor. Na verdade, ele sabe. E, no fundo, também sabe que a solução é, ao mesmo tempo, motivo de seu sofrimento.
Sempre trouxe suas emoções e sentimentos controlados, como que guardados a sete chaves numa caixa escondida do mundo. Até que ela apareceu.
E no auge de seu autocontrole, se deixou levar sem perceber. Quando se deu conta, já não tinha como voltar atrás. Havia aberto a caixa e trazido todos os seus sentimentos ao alcance dos olhos. Ao contrário de Pandora, sua caixa guardava mais coisas boas que ruins. Mas com o rumo da história, acabou se vendo amargurado como jamais fora.
Seu coração estava exposto. Ela sabia que o despertara. Mas era tarde demais.
Ele, um amante à moda antiga. Cuidava dela por gosto, não por obrigação. Ela, uma amante moderna. Cuidava de si por opção, não queria se envolver. Porém os laços que criaram já não se dissolveriam mais. Mesmo forçados a seguir caminhos diferentes, sempre acabavam por voltar ao ponto de partida, aonde tudo começou, à primeira troca de olhares.
E toda vez que suas almas se encontravam, as dores aliviavam por um tempo. E voltavam à tona quando se davam conta de que o destino os separava naquele momento.
E não há ninguém no mudo que saiba lhes dizer o que fazer. As escolhas são deles.
Ela tem o coração guardado. Fechado pra balanço. E só há um par de mãos autorizado a retirá-lo de sua redoma. Mas que insiste na escolha de não tocá-lo.
Ele tem o coração escancarado. Às mãos. Implorando conserto. E só há um par de mãos no mundo que possa curá-lo: o seu.

terça-feira, 19 de abril de 2011

Teus versos

Me invade essa vontade de te descrever em versos. Meus versos. Teus versos. Nuestros versos pulsantes a una realidad tan distante.
Me enlouquece essa vontade de te dissecar em versos. Dispersos. Pedaços. Retalhos de uma composição em meios tons.
Me alucina essa vontade de te contar em versos. Enumerar os teus detalhes. Parte a parte. Somar trechos, estrofes e refrões em melodias.
Me diverte essa vontade de te fantasiar em versos. Ver-te como eu sempre quis. Fazer-te como eu quero. Delinear teus traços. Desenhar teus planos.
Me atormenta essa vontade de te trazer em versos. Realidade adentro. Duras penas. Mentiras serenas.
Me alivia essa vontade de te sonhar em versos. Acalentar teu sono. Meu abandono, teu descansar.
Me cura essa vontade de te cantar em versos. Dizer tuas cores. Mostrar teu som. Desenhar teus sabores em pastel.
Me domina essa vontade de te dizer em versos. E de ter ao meu alcance toda a tua doçura escondida. Meus versos. Teus versos. Nuestros versos dispersos.

terça-feira, 12 de abril de 2011

~ele é assim

Ele é do tipo carinhoso, que cuida, que abraça, que olha com doçura e fala com mansidão.
Ele é vaidoso. Do tipo que se arruma, mas sem exagero. E se perfuma o suficiente para deixar seu cheiro em quem abraçar.
Ele é o dono do melhor abraço do mundo! Aquele abraço que encaixa direitinho e não dá vontade nunca de parar de abraçar.
Ele gosta de mãos dadas e olho no olho. É movido a sorriso e beijinho.
Ele faz charminho, é cheio de dengo e só precisa ser mimado.
Ele é tão fácil de se decifrar…
Adora morango, detesta caju e sempre briga pela última cereja do sorvete.

domingo, 20 de fevereiro de 2011

Luna

O vento mudou. A Lua vai alta no céu. Amarelo-ouro.
Da sacada, cabelos esvoaçantes, olhos no horizonte observando a noite nascer. Admirando as nuvens e estrelas, pensa na vida… no que deveria ser sua vida… no que fez da sua vida.
O futuro lhe reserva tantos caminhos, que não se sabe qual será o seu destino.
Mais uma vez, precisa começar com uma escolha. Um passo à frente. Um passo em falso. Um passo decisivo. Toda a sua eternidade dependente de uma resposta.
A Lua é fonte de inspiração, descanso para os olhos, alimento para os sonhos. Amarelo-ouro…brilho reluzente. Pela sua cabeça passa um filme…do futuro.
Estaria o porvir de acordo com seus sonhos… ou seus devaneios ao alcance de suas mãos?
Sentindo a noite nascer, sentia, também, seus desejos possíveis.

sábado, 19 de fevereiro de 2011

Rosa

Sou flor aberta em luz
Botão fechado em cor
Pétala por pétala poesia
Aroma exalado por amor
Sou rosa aberta no tempo
Dançando ao som do vento
Respirando o sereno da noite
Suando o orvalho da manhã
Pôr-de-sol em estrela
Cor e dor a cada espinho
Rainha do jardim
Sou rosa aberta em poesia
que não tem fim

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Poesia noturna

O céu azul do dia se foi
O escurecer se aproxima
Caminhos se confundem
no breu da noite
embaçada pelo sereno.


A luz que vejo vem do luar
E dos pensamentos que me levam
a você
As cores que me cercam são da
noite que sorri
E das estrelas que me olham
E da lembrança de você

A cor do esmalte

Ameixa,
deixa
tua mão na minha mão.
Não aceito “não”,
só motivos para o coração.
Então vem,
os meus lábios nos teus lábios sem
juízo nem direção, só bem.
O meu corpo no teu corpo, vem
sem pressa, na contra mão, também.
Vem comigo que tá tudo zen.
Fora da multidão
eu me perco nas tuas curvas,
métricas,
cheiros longos cheiros
nessa noite sem regras,
definições,
simbologia,
medo de tremor,
torpor de tua boca
santa,
profana…
Meu bem,
vem sem pressa, vem comigo, vem.
Deixa tudo pra trás, meu bem.
Eu te quero na minha vida, bem
pertinho, carinho, também.
Você e eu, os anjos dizem amém.


Parceria com o querido amigo Carlos Valença.

Sopra teu gosto

Profana
em teus segredos
perdidos
no tempo não vigiado
onde nos escondemos…

Pandora
com a caixa aberta
desperta
desejos escancarados
roubados
lançados ao vento
atento
releio teus traços
espaços
aos quais não pertenço

Então penso
em nós
nus
ao luar
para amar até nos momentos perdidos
pela multidão
dopada sem amor
como o que vivemos

Queremos
um ao outro.
Devemos
momentos intensos
à lua
que é minha e tua.
Alma nua
e desejos,
imensos beijos.
E carne e corpo e suor.
Nada é maior
que o amor.

Esse amor pleno
de infantil desejo
da lua amorosa
da noite sem cortinas
que nossa infância reviveu.

Parceria com o querido amigo Carlos Valença.

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

É virose

Uma espécie (rara) de vírus me consome. Parece ter nascido, já, dentro de mim e ter vida própria. Aparece e desaparece quando bem entende. Na verdade, nem desaparece, permanece, mas se esconde.
E os sintomas são imperceptíveis. É vírus daqueles que não se sente até a situação se agravar. Tanto e a tal ponto de a reação ser externa. Como se todos à volta percebessem que falta alguma coisa ou que um pedaço parece ter ficado adormecido. E eu permaneço intacta, imóvel, insensível.
Esse vírus me ataca esporadicamente. E me tira algo tão meu que só quem me conhece bem sabe quando ele está presente. Conhecer bem nem sempre significa conhecer muito ou há muito tempo, mas reparar os detalhes gritantes que me saltam alma a fora. E há quem repare sem esforço algum. A esses, ainda não entendi como o vírus que me acomete não consegue atingir. Vai ver eles têm um olhar tão apurado que conseguem ver o vírus chegando e se protegem.
É uma virose daquelas! Do tipo que não tem remédio, nem controlado, que resolva. Talvez seja saudade. Talvez seja vazio. Talvez seja excesso. Talvez seja calor. Talvez seja tudo junto. E é esse tudo junto que separa.
O vírus que me pegou foi tão esperto e se escondeu tão bem que não dá nem pra saber quanto tempo ele pode ter de vida. Pode terminar agora, pode durar pra sempre, pode nunca ter existido.
O vírus que me ata os dedos e me priva as palavras parece ter vida própria. E segurar meus textos já desde dentro da alma. E não permitir que eles venham à superfície.
Espero que tenha remédio. Ainda que uma tarde em frente ao mar ou uma boa dose de gargalhadas infinitas.

sábado, 15 de janeiro de 2011

O beijo.

Foi só um beijo. Não tocaram sininhos nem choveram estrelas. Foi só um beijo. Que até já se conhecia. Mas, ainda assim, pareceu diferente. E era. Era novo. Era a marca do fim. Era um fim iminente, esperado, aguardado.... e, por que não, desejado. E seria um divisor de águas. Suas vidas se dividiriam em antes e depois daquele beijo. E assim aconteceu. Antes eram os melhores companheiros, depois mal se viam. Antes eram só sorrisos, depois trocavam farpas pelo olhar. Antes eram cúmplices, depois inimigos mortais. Suas vidas foram marcadas por aquele gesto, aquele beijo, aquele momento que desejariam jamais ter vivido. E tudo o que eram um com o outro se desmoronou como um castelo de areia atingido pelo mar. Nunca mais se reconstruiu. Nunca mais seria igual. A menos que outro gesto os libertasse para outra vida.

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

O triste fim.

Hoje não chove. A noite está quente e abafada como todas as outras nos últimos dias. Porém há algo de diferente no ar. Não se pode ver as estrelas. Nuvens pesadas cobrem o céu de verão.

Palavras guardadas há muito ameaçam se jogar goela acima e se lançar aos seus rostos, lhes desarmando a cada vírgula, a cada ponto, a cada final. Porque hoje é que se há de decidir o futuro de duas vidas. De suas vidas.

E, de repente, o que se percebe é que nunca mais será saudável. Que é vital a necessidade de não ser. Porque, sendo, causará males que ninguém jamais conseguirá curar.

Madrugada adentro palavras são jogadas ao vento. Atiradas como dardos envenenados que não voltam ao arco. Defeitos são arremessados, cravados como punhais às costas. É essa a sensação: de receber punhais enferrujados às costas. Uma pena. Era tão bonito quando saudável. Uma pena, mesmo.

Agora a decisão foi tomada. E não há mais como voltar. As nuvens pesadas se dissolvem em gotas grossas. Mas não de chuva. Nem de lágrimas. São os sentimentos que desabam goela abaixo. Melhor engolir que piorar uma situação mal resolvida, não resolvida, abandonada.

Jogaram a toalha. Desistiram. Não tinham mais pra onde correr. A dor de insistir era mais forte que a de exterminar os vestígios, os restos, as sobras. O que ficou foram farelos. E não se reconstrói castelos pelas migalhas que sobraram do que se representou um dia.

Foi triste. Mas só por ser fim. Finais entristecem. Mas é tristeza passageira, das que não se demora. Basta o primeiro raio de sol pra colorir sorrisos e afugentar a tristeza e as lembranças ruins. Foi, mesmo, uma pena. Mas tudo que começa precisa terminar. De uma forma ou de outra, tudo tem prazo de validade. E quando um ciclo chega ao fim, é sinal de que uma nova era está se aproximando.

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

O velho conhecido

Hoje fui conhecer um velho conhecido. Por trás de um par de óculos sem armação e alguns fios brancos, ele me sorriu entre histórias e sonhos. Contou-me de aventuras passadas e ainda não vividas. Mostrou-me como os sonhos são capazes de mover um mundo inteiro.

Pelos olhos daquele velho conhecido, pude ver um universo inteiro que se abria em possibilidades bem debaixo do meu nariz, ao alcance das minhas mãos. E foi pela doçura em sua voz que ouvi o chamado maior.

Hoje fui conhecer um velho conhecido. Ele me sorriu entre histórias e sonhos. Pude ver um universo inteiro que se abria em possibilidades. De braços abertos e mãos estendidas, lhe sorri de volta. Entreguei-lhe a única certeza de que dispunha. E ele a devorou sem pestanejar.

Hoje fui conhecer um velho conhecido. O futuro me sorriu entre histórias e sonhos. Pude ver um universo inteiro que se abria em possibilidades.