Com seu chapéu panamá e a camisa listrada aberta, ele coleciona marcas de batom que recebe pelo caminho.
Boêmio como nenhum outro jamais será, se compara aos grandes sambistas que escreviam suas histórias em versos de músicas que arrebataram o morro e o asfalto. Frequentador dos melhores bares da cidade, com seu jeito expansivo e comunicativo vai conquistando espaço sorrateiramente.
Não há moça que não reconheça, mesmo de longe, seu jeito de andar, falar, sorrir e olhar enquanto conversa. Carinhosamente, trata todas como verdadeiras damas. O Malandro sabe que, assim, terá abrigo e um bom par de pernas sempre que se sentir solitário.
O verdadeiro Malandro caminha como que dançando, conversa como que cantando, sorri como que encantando a vida ao redor. Dessa maneira, vai sobrevivendo, superando as descidas e subidas nas ladeiras da vida.
Mesmo assim, seu sincero coração deseja sempre mais que cerveja, boa música ou uma moça para passar o tempo. Malandro que se preza não abre mão de uma nega que o espere toda noite no barracão, com uma panela de feijão no fogo e uma saia de fazer virar o pescoço dos que a vêem de manhã na feira. Malandro que é malandro só sossega quando encontra a Nega que se propõe a curar suas noites de bebedeira na boemia sem se queixar, que o acompanha à gafieira nos fins de semana, toda rebolativa, dançando a noite inteira e que faz uma boa feijoada no domingo pra reunir os camaradas.
Mas, no Carnaval, nem a Nega o espera. Ela o aceitou sabendo que o que a espera é uma camisa listrada faltando um botão e com algumas manchas coloridas pra tirar, um velho chapéu panamá com a aba dobrada pra acertar e um Malandro cansado de tanto sambar.
M.
Há 2 semanas
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