Tomou pela mão o Soldado e o tirou dos braços de sua amada.
Tomou o caminho do Arcebispo e desviou seus olhos do Céu.
Tomou o coração às mãos e não soube que caminho seguir. Seu destino não a prendia ali, a levava além, ao horizonte, ao alto. O alto da Torre.
Seu coração a guiou até as Três Marias.
O Tocador de Sinos a observava pelos vitrais da Catedral, desde que cruzara as portas do templo. Ele não esperava olhá-la nos olhos, tão de perto, sentir o calor de sua respiração a o macio de sua pele em seus braços.
A bela Cigana não pôde conter o espanto ao mirar, através de um embaçado espelho, aquela figura disforme olhando para ela. Cobriu a boca com as mãos e abafou um grito de pavor. Se aproximou devagar enquanto ele se escondia nas trevas. Acariciou-lhe o rosto com as pontas dos dedos. Ele se assustou e a segurou pelos braços. Ela olhou dentro dos olhos dele. E se amaram através daquele olhar.
Se entregaram a um abraço terno e intenso. E a noite seguiu, silenciosa.
Acordou sozinha, coberta por pétalas de girassóis. Vozes graves e passos pesados a despertaram do sonho para a realidade que vivia. Procuravam por ela.
Com o coração na boca, pôs suas vestes e desceu correndo as escadarias da Torre. Não sem antes olhar, mais uma vez, para o sol que iluminava a Igreja através dos magníficos vitrais.
A trupe com que viera se despedia da cidade com festa e música, mas ela não podia sair dali. Finalmente encontrara o seu lugar. Ao mesmo tempo que ouvia seus amigos em festejos, se lembrava dos nomes que diziam os homens que procuravam por ela na Torre. E entristeceu-se. Não poderia continuar lá. Tinha de seguir com a trupe.
E a cigana partiu. Com o coração na mão e a lembrança doce do carinho de seu Tocador de Sinos.
2 comentários:
Você me fez imaginar a cena perfeitamente. Escreve um livro Esmeralda!
"Far-te-ei um sonho meu..."
Fernando Pessoa
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