Revirando umas caixas velhas, encontrei meus antigos diários. Descobri que essa mania de escrever com riqueza de detalhes me persegue desde que eu aprendi a juntar sílabas. A letra mudou bastante desde o primeiro, mas sempre foi legível, bonita e bem caprichada. Meus cadernos eram sempre os mais bem cuidados. E os mais emprestados, também, na época da escola. Me orgulho disso até hoje, quando vivo meus momentos de nostalgia.
O mais curioso não foi ter encontrado os diários, mas parar pra reler toda aquela baboseira que, à época, era segredo de morte. Somente as minhas melhores amigas (éramos três, como somos até hoje e, espero, seremos por muito tempo) sabiam o que continham aquelas páginas cor de rosa.
As flores estampadas e os adesivos de princesas e fadas sempre foram primordiais. Se faltasse, eu achava que enlouqueceria. Mas enlouqueceria, mesmo, se me roubassem algum daqueles tesouros. Minha vida inteira, passo a passo, estava descrita naquelas linhas. Eram segredos que eu acreditava que levaria para o túmulo. Ledo engano. Mal sabia que eram eles que me divertiriam, anos mais tarde, nas mesas de bar e reuniõezinhas da turma do colégio.
As intrigas com outras meninas, as brincadeiras de bonecas, os amores tão infantis...
Só um segredo eu nunca contei a ninguém. Percebi que esse se mantém secretamente escondido no meu coração ainda hoje, depois de velha, formada, adulta. Escondido não, soterrado em meio a escombros de um passado presente.
Foi quando uma foto caiu do meio de um dos diários... era uma foto das férias que passamos na Bahia com a turma toda. Eternizados naquele pedaço de papel, Eduardo e eu pulávamos na piscina do hotel, de mãos dadas.
Eduardo sempre foi meu amigo. Desde que nos entendemos por gente, andamos juntos. Somos vizinhos até hoje e vamos juntos ao trabalho, partilhamos horas de almoço e de descontração nos fins de semana. Ele é o meu melhor amigo. As meninas tinham ciúme dessa nossa amizade. Talvez por ele ser um dos meninos mais populares da escola, ou por eu dividir a atenção que deveria ser exclusivamente delas. Lembro que íamos juntos para a escola, de bicicleta, que corríamos na praia todas as tardes, que andávamos de patins no clube, que nadávamos todo sábado no mesmo horário, que contávamos tudo um para o outro...
Lembro, como se fosse ontem, o dia em que ele me contou que estava apaixonado pela primeira vez. E quando eu contei a ele que havia me apaixonado, também. Mesmo que não fosse de todo verdade, também não era mentira.
Lembro que combinamos que o nosso primeiro beijo seria um ensaio para não errarmos com as respectivas paixões e nos beijamos de frente para o mar, ao pôr do sol. Lembro como se fosse hoje... e reler nos velhos diários toda a nossa história reacendeu o segredo que eu guardava comigo há muito no fundo do coração.
Emocionadíssima com os momentos que eu pude reviver lendo aquelas páginas desbotadas, ri e chorei uma tarde inteira. Até me esqueci de terminar a arrumação que havia começado. Tomei um banho, arrumei as caixas de volta e fui dormir. Sonhei com Eduardo como há anos não sonhava.
M.
Há 2 semanas
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