segunda-feira, 13 de abril de 2009

eLe e eLa

cheguei, ele falava dela.
fiquei, ele falava dela.
saí, ele falava dela.
voltei, ele ainda falava.
e falava dela.

ele parece não saber falar de outra coisa.
ele parece não saber viver pra outra coisa.
ele parece não saber sonhar com outra coisa.

a presença dela está entranhada nele.
mas ele já não está mais entranhado nela.
ainda que pareça, eles já não estão mais tão ligados assim.
e ele não percebe. ou não quer perceber.
ou, então, não consegue perceber.

ele se prendeu à necessidade que tinha dela.
como se fosse seu único meio de não sucumbir.
ela, para ele, era tábua de salvação.
ele, para ela, já era sentimento sem sentido e sem razão.

ela já vivia sem ele.
ele só vivia porque respirava por ela.

o azul

era uma vez, uma gota de azul.
no começo, quando ele só conhecia o azul,
ele era só mais uma gota de azul.
meio avermelhado e não sabia o porquê,
mas achava que era azul.
até que, um dia, ele saiu do azul.
teve a oportunidade de conhecer outras cores, rumos e sabores.
e voltou diferente.
percebeu que não era azul.
e que todo aquele azul não era seu.
nunca o pertenceu.
ele se via diferente.
se sentia diferente.
se fazia diferente.
todos o tratavam igual, mas incomodado por se pensar diferente, ele queria se tornar diferente.
queria ser tratado como (achava que) merecia.
e foi assim que aquele azul, que sempre fora azul,
resolveu deixar de ser azul e se assumir roxo.
porque ele era mais que azul. era vermelho também.
era mescla. era mistura. era a pureza da impureza.
ele era roxo porque também era vermelho, mas não deixava de ser azul.
e foi depois de se assumir roxo que ele se percebeu azul.
e vermelho. e roxo. mas sem deixar de ser azul.
e roxo, aquele azul, que também era vermelho, se descobriu feliz. se encontrou. e se permitiu ser roxo. e ser, também, vermelho.
mas não deixou de ser azul.