segunda-feira, 31 de maio de 2010

Les Gargouilles

Choro. Tenho o coração apertado, entalado no peito. Mal respiro. Soluços me consomem desde o começo da noite. A lua brilha intensamente e as estrelas são como inúmeros olhos a me observar de todos os lados.
No chafariz da praça, ao redor de suas inquietas águas, os Ciganos se reúnem e dançam. A alegria daqueles corpos livres me entristece. Por isso choro.
Além das minhas Marias adormecidas, não tenho outra companhia que não as Gárgulas do alto da Torre da Catedral. E a elas me dirijo.


Mesmo sem dizer palavra, as Gárgulas me ouvem e parecem compreender a minha dor. Vivem o mesmo sofrimento de não poder sair dali e dançar na alegria dos Ciganos que habitam a praça.
Presos, incorporados à Torre da Catedral, as Gárgulas e eu não temos outra escolha além de observar. E desejar estar ali. E invejar aqueles seres livres que rodopiam, festejam, se alegram e mais que tudo: vão aonde querem.

Sim.

Eu vivo o universo que você cria.
Eu sou aquela que nunca corresponde.
Eu sei cada sentimento que passa pelo seu coração.
Eu estou aqui, mesmo que você diga não.

Em resposta a um estímulo vindo de um canto qualquer.