domingo, 20 de junho de 2010

Lucas.

Ela me telefonou dizendo que lera meu texto e se interessara. Disse que via a trama se desenvolver diante seus olhos a cada linha. E que, talvez por descuido (não sabia se meu ou dela), acabou nos reconhecendo (a ela e a mim) no meio daquelas personagens tão irreais que tomavam cor, forma e vida em minhas palavras através de seus olhos.
Disse que gostou dos escritos e queria transformar tudo num filme. Sem nem mudar cenários ou pessoas. Durante os primeiros 15 minutos de conversa, não tive oportunidade de dizer mais que o 'oi' ao atender à ligação. Ela estava decidida e não queria outra resposta que não um sim. Teatral e exagerado, com toda a empolgação que ela sentia, mas sabia que eu não compartilhava.
Esperei até ela parar de falar para recuperar o fôlego e respondi, antes que ela continuasse. Respondi o que ela queria ouvir e a deixei sem reação. Andréia sabia que tudo o que eu sempre escrevi em meus livros eram retalhos da nossa vida a dois. De tudo o que vivemos e, também, do que não aconteceu. Usava nomes e situações quaisquer que ninguém que lesse reconheceria a não ser ela, Andréia, mesmo depois de tanto tempo separados.
Depois de algumas tentativas em vão, desistiu de tentar falar qualquer coisa e me ouviu. Expliquei que cederia os direitos e permitiria as filmagens da maneira como ela quisesse, que não interferiria em nada, que sequer leria os roteiros, disse que confiava no trabalho de sua renomada e reconhecida equipe. A única condição para transformar minhas raras palavras em imagens era que ela não voltasse a me telefonar.