sexta-feira, 20 de agosto de 2010

A decisão

- Joguei tudo pro alto. Desisti. Foge comigo?
- O que?
- Larguei tudo. Não tô cabendo mais aqui. Foge comigo? Vamos pra outro lugar.
- Isso é loucura!
- Eu sei! Mas por essa loucura que eu experimentei a liberdade. Vem, foge comigo!
- Não posso! E a vida que eu construí aqui? Família, casa, emprego... Não dá pra largar tudo agora.
- Clara, para com isso. É tudo o que você sempre quis, sair dessa prisão que se tornou a sua vida. Vem comigo.
- Não fala assim, Deco.
- Mas é verdade, Clara. Você é maior que tudo isso e também já não cabe mais aqui. Vamos embora desse lugar. Vem comigo, Clara! O mundo é nosso!
- Deco, bota esse pé no chão. Como a gente vai viver fora daqui? Sem lugar pra morar, sem conhecer ninguém, sem dinheiro... Deco, para de agir como criança. Você não tem mais idade pra isso. Me escuta...
- Me escuta você, Clara: cadê aquela menina sonhadora que sempre quis ser feliz? Pra onde foi a sua coragem? A sua vontade, Clara? O seu desejo de ser feliz? Você sabe que não é essa vida que você tá levando que vai te fazer feliz. Esse lugar é pequeno demais pra você, Clara. Você merece muito mais.
-  Deco... não fala assim. Eu... eu sou feliz aqui. Apesar de alguns problemas... eu... eu sou feliz, sim.
- Clara, não se engana com isso. Você se acostumou com essa vida. Seu lugar não é aqui!
- Deco, eu não posso...
- Clara, casa comigo!
- O que?
- CASA COMIGO, Clara! Eu te amo!
- Deco!
- Eu te levo pra ver o mundo, Clara. Casa comigo!

~ Carta para nós dois

Confesso, em algum lugar me afeta ter que ouvir e rir de tudo isso. Talvez eu realmente quisesse estar em um lugar diferente do que estou.
Sua paixão é clara e, ainda que doce, explícita. Mas, mesmo assim, não cabe a mim corresponder. A verdade é que você não se encaixa nos planos que eu fiz pra mim e não acho que seja justo te aprisionar a uma vida que não te cabe meramente por capricho.
Não posso te privar de fazer outros planos, de querer alguém que te faça feliz, de me esquecer. Você é o tipo de pessoa que merece ter sempre um motivo pra sorrir. E deve buscá-lo, sim!
Mas o meu egoísmo me traz em amarras tão surreais, que me vejo sem direção quando penso em você.
Tudo o que sei é que te quero sempre sorrindo. Te quero a pessoa mais feliz desse mundo. Te quero meu eterno ombro amigo, meu porto seguro. Te quero comigo. Te quero.
Então descubro que, todo esse tempo, o meu maior defeito foi te querer.
Mas agora me parece tarde. Tarde pra mim, porque, ainda que aos poucos, você foi ocupando o seu coração e reduzindo o meu espaço dentro dele. Tarde pra você, porque, mais uma vez, no auge do meu egoísmo, eu te deixei de lado. Tarde pra nós, porque talvez já não haja mais tempo.
E o que nos resta quando não há mais tempo? Fugir? Fingir? Desistir?
Eu desisto, desisto de fugir e de fingir. E assumo: eu te quero aqui.
Estou na porta de casa, brincando com as chaves. Até quando você vai demorar?