domingo, 4 de abril de 2010

Relatos de um Diário enciumado

As novidades tecnológicas me roubaram a vez, o lugar e a preferência. Desde que arrumou esse novo aparato, deixou de lado o exercício de me dar um lugar privilegiado, de destaque na prateleira. Antes, ela não precisava me procurar por todo canto, sabia exatamente onde me encontrar.
Sempre reclamou da tendinite, mas, em mim, buscava alívio na livre mudança dos movimentos. Ela perdeu o juízo, abandonou as raízes, não faz mais questão de ver as palavras nascerem de seus gestos, prefere vê-las pingar da ponta dos dedos, como um robô apressado.


Confesso, sinto falta de ser o seu xodó. Não pisco em neon azul, mas minhas páginas cor-de-rosa refletem o brilho dos seus olhos. Espero que se lembre de mim. Não gosto da sensação de abandono que me causa o fundo de uma bolsa escura o dia inteiro. Quero que me leve aonde for.
Não me importo de ser rascunho. Conheço meu lugar. Só peço que ela reconheça o meu valor. Afinal, antes de ser virtual, toda e qualquer idéia que sai da cabeça dela só se torna real quando passa por mim.