quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Terça-feira.

Viver de desprazeres não é natural.
Mas é possível acostumar-se.

Mais um dia que deu errado em meio a uma rotina de tantos outros dias.
Às sete da noite, sentada em frente ao mar, à beira da praia que inunda seu caminho rotineiro ao menos duas vezes por dia, ela sente.
Sente frio. O vento uiva em seus ouvidos, arrepia-lhe os pelos, resfria-lhe o corpo, levanta a renda da barra de sua saia...
Sente falta. Espera o namorado que está a caminho e lhe trás seus pertences, esquecidos no último fim de semana que passaram juntos.
Sente tristeza. Seu dia desandara desde os primeiros passos da manhã.
Mas, olhando o mar, ela decide não pensar em nada disso...
Não consegue. Por mais que tente, como um furacão, ela sente.
Sente fome. Sua última refeição fora um lanche à hora do almoço. Engolido às pressas em função do já conhecido (e rotineiro) atraso para a aula. O trabalho a consumia em larga escala.
Sente raiva. Foi obrigada a recusar um convite dos amigos por incompreensão. Ela não podia ir, eles não entendiam o porquê.
Sente arrepios. O vento continua a esfriar-lhe o rosto e levantar-lhe a saia.
Sente medo. E o guarda a sete chaves.
Sente solidão. Mesmo o vai-vem de pessoas ao seu redor não a faz sentir-se acompanhada.
Sente o mar. As dores do mar. A frieza do mar. A fraqueza do mar, que, desanimado, não consegue erguer suas ondas.
Sente o céu. O movimento das pesadas nuvens que se arrastam a faz sentir a chuva que virá.
Sente o vento. Além do frio, das baixas ondas e dos uivos, o vento lhe traz um certo conforto.
Ainda gelada, a menina olha em volta buscando os braços quentes que a irão receber. Seu namorado ainda não chegara. Mas estava a caminho.
Como forma de escapismo, de abstração ou mesmo de distração, ela escreve. E sente. E escreve sobre o que sente.
O vento decide castigá-la. Aumenta, atrapalha, dói. Mas ela insiste. Em escrever e em sentir.
O telefone toca. Ansiosa por escrever, ela demora a atender. Curiosa por natureza, interrompe o texto. Não é a que ela esperava ouvir, mas uma voz familiar do outro lado linha aquece o seu coração.

Um comentário:

Luka disse...

Esse eu gostei muito... Parabêns pra morena