quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

O triste fim.

Hoje não chove. A noite está quente e abafada como todas as outras nos últimos dias. Porém há algo de diferente no ar. Não se pode ver as estrelas. Nuvens pesadas cobrem o céu de verão.

Palavras guardadas há muito ameaçam se jogar goela acima e se lançar aos seus rostos, lhes desarmando a cada vírgula, a cada ponto, a cada final. Porque hoje é que se há de decidir o futuro de duas vidas. De suas vidas.

E, de repente, o que se percebe é que nunca mais será saudável. Que é vital a necessidade de não ser. Porque, sendo, causará males que ninguém jamais conseguirá curar.

Madrugada adentro palavras são jogadas ao vento. Atiradas como dardos envenenados que não voltam ao arco. Defeitos são arremessados, cravados como punhais às costas. É essa a sensação: de receber punhais enferrujados às costas. Uma pena. Era tão bonito quando saudável. Uma pena, mesmo.

Agora a decisão foi tomada. E não há mais como voltar. As nuvens pesadas se dissolvem em gotas grossas. Mas não de chuva. Nem de lágrimas. São os sentimentos que desabam goela abaixo. Melhor engolir que piorar uma situação mal resolvida, não resolvida, abandonada.

Jogaram a toalha. Desistiram. Não tinham mais pra onde correr. A dor de insistir era mais forte que a de exterminar os vestígios, os restos, as sobras. O que ficou foram farelos. E não se reconstrói castelos pelas migalhas que sobraram do que se representou um dia.

Foi triste. Mas só por ser fim. Finais entristecem. Mas é tristeza passageira, das que não se demora. Basta o primeiro raio de sol pra colorir sorrisos e afugentar a tristeza e as lembranças ruins. Foi, mesmo, uma pena. Mas tudo que começa precisa terminar. De uma forma ou de outra, tudo tem prazo de validade. E quando um ciclo chega ao fim, é sinal de que uma nova era está se aproximando.

2 comentários:

Ju Fernandes disse...

os castelos tombados possuem mais beleza, (talvez por ainda ter a poeira residual do tempo corrido), do que os castelos restaurados. O material já nāo é o mesmo, as mãos já nāo sāo as mesmas...

Carlos Valença disse...

Rê... que texto melancólico!
Mas, vejo nele força, poesia, imagens, um tempo diferente... É o que falamos, até nas coisas tristes há a possibilidade de coisas maravilhosas.
Não entendo de "castelos",
nunca os freqüentei,
nunca os procurei,
nunca me disseram nada;
sei que, nas fábulas, abrigam donzelas tristes,
rainhas más,
espelhos que falam. Os príncipes estão sempre longe,
os sapos estão no brejo.
Na realidade, castelos desmoronam sim,
ou viram museus.
Prefiro, como nosso PAI, as grutas com manjedouras, cavernas e até túmulos,
afinal foi preciso que um ser humano estivesse no escuro para ouvir as mais belas palavras de nosso PAI, reproduzo-as aqui na nossa língua-mãe:
"Lazare, veni foras!"
Jo 11, 43

Às vezes, é necessário morrer.
Tu me manques...